É muito comum ouvirmos alguns
crentes afirmarem que o cristão que está doente não deve aceitar essa
condição porque Jesus levou lá na cruz todas as nossas enfermidades e,
por isso, o crente não deve ficar doente. O texto que é usualmente usado
para essa afirmação é Isaías 53.4: “Certamente,
ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre
si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido.”. Segundo
muitos esse texto seria o embasamento de que o crente que está doente
está em pecado ou está com uma fé “pequena”, por isso, precisa exercer a
sua fé com mais firmeza, pois essa doença foi levada por Cristo lá na
cruz e não deveria acontecer na vida desse crente.
Tenho dificuldades de crer nesse conceito por alguns motivos que exponho abaixo:
(1) Qual seria o significado de “enfermidades” no texto de Isaías 53.4? No hebraico a palavra é “choliy”, que significa “doença”. Mas será que o texto está falando de doenças físicas?
Creio que a obra de Jesus pode sim repercutir positivamente em nosso
físico, porém, o contexto parece nos indicar que os benefícios curativos
da morte de Cristo tem um alvo muito mais espiritual que físico. O
versículo cinco desse mesmo texto de Isaías diz: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”.
Note que as “doenças” citadas no contexto são as transgressões e
iniquidades, que apontam para o ser humano afundado no pecado. Jesus foi
traspassado e moído por causa dessas doenças (nossos pecados) e não de
doenças físicas. Note ainda que essa obra curativa de Jesus sobre essas
nossas doenças nos tornou “sarados”. A ênfase aqui não é em problemas de
saúde do nosso físico, mas do nosso espírito. Jesus nos sarou das
consequências de nossa pior doença (pecado). Jesus não morreu na cruz
para que eu não tivesse mais uma dor de cabeça ou uma dor na coluna ou
outra doença.
É claro que aquilo que está em nosso espírito pode repercutir no
físico, mas isso não significa que a obra de Jesus foi para nos livrar
de todas as doenças físicas e que nunca deveríamos ficar doentes
fisicamente.
(2) Considerando que Jesus tenha levado nossas doenças físicas
lá na cruz como alguns dizem, como podemos harmonizar esse pensamento
com o fato de que milhares de crentes ficam doentes todos os dias (e até
morrem em decorrência dessas doenças) no mundo inteiro? E ainda o fato
de vários crentes terem ficado doentes na Bíblia Sagrada (Paulo,
Timóteo, Lázaro, Trófimo, etc)? Nesse momento me lembro de um pedido de
oração que vi no Facebook do grande evangelista Billy Grahan,
reconhecido homem de Deus, e que está seriamente doente. Servos de Deus
ficam doentes o tempo todo e nem por isso estão longe de Deus. Ora,
seria a obra que Jesus fez na cruz fraca ou mal feita a ponto de não
fazer efeito na vida de seus servos? Essa obra de Jesus estaria apoiada
em nossas obras e não nos méritos Dele?
O texto de Isaías é enfático ao dizer que “pelas suas pisaduras fomos sarados.”.
Não há margem alguma para pensarmos que algum crentes verdadeiros são
sarados e outros não. Ou que crentes podem ficar sarados em alguns
momentos e em outros não. Em meu entendimento o texto de Isaías só
consegue estar harmonizado com a salvação pela fé, que não é por obras
do ser humano, e que é operada totalmente e plenamente por Deus (Efésios
2.8) . Só assim o “fomos sarados” se cumpre sem dúvida alguma e
plenamente na vida do ser humano. A obra de Jesus citada por Isaías é a
de remissão de nossos pecados, nossa maior doença.
(3) Assim concluo que o argumento de que Jesus levou todas as
nossas doenças físicas lá na cruz e que não podemos ficar doentes, não
tem embasamento no texto de Isaías. Devemos sim buscar a cura nos meios
que Deus coloca diante de nós, na medicina, por exemplo, e, por que não
também no agir sobrenatural de Deus quando necessário. Porém, não
podemos afirmar que se um crente está doente isso signifique que a obra
de Jesus não esteja sendo feita na vida dele. Muitos crentes
verdadeiros, inclusive, morrerão vítimas de doenças e morrerão
plenamente na presença de Jesus sem qualquer prejuízo da obra de Cristo
na cruz.
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